Um fato social: O cotidiano no capitalismo te empurra a realizar coisas com as quais não sente a menor identificação. Seja de modo coletivo ou seja pessoal, sempre há. Compra, venda, voto, trabalho, gente que se pudesse evitaria, lugares em que se pudesse, não colocaria seu pé – e que, por você, muitos deles nem existiriam…
Pois é…
Dentro dessa atividade de ilustração, foram bem raras as vezes em que meti as mãos em coisas das quais discordava, nem me recordo facilmente de alguma agora.
Óbvio que se seu estômago revira com determinado tema, mal virá de algum lugar a inspiração, prazer de mexer com ele, mas mesmo antes desse mal-estar me acontecer, acho justo deixar esclarecido que alguns tipos de trabalhos, sem chance, não é possível mesmo pegar pra fazer, por questões de consciência, de crenças mais pessoais. E umas outras, por limitação mesmo.
Porn Gore, e afins, de cara: Não. Não concordo com essas capas cheias de imagens degradantes de mulheres nuas, estupradas, mortas. Acho que considero a ilustração até pior do que a foto nesse caso, pelo tempo detido em cima disso, sem nenhuma reflexão quanto ao assunto. Sério que isso é bem "forte", "impactante" e tals? Sei lá. É, basicamente, o mesmo que a bíblia vem fazendo há um bom tempo, porém com um instrumental mais ferradinho. Só.
Grindcore, Punk, Gore, Death, Hardcore, Black Metal e tantos outros, de abordagens agressivas, reflexivas, niilistas até, sobre ser humano e interações sociais, são inclusive muito bem vindos! :)
O ponto, complicado mesmo, para mim, está em dirigir violência a algum grupo em vez de usar a violência como tema de uma arte específica (musical e gráfica). Então, mesmo que não seja com sangue e coisas do tipo, não tenho interesse em produzir NADA que eu acabe entendendo que se enquadra como Machismo em Geral (em graus mais ou menos explícitos de violência).
O mesmo vale para trabalhos que utilizem Animais em situação de tortura, abuso, morte… com apelo “gracioso” (tom “humorístico”. Acredite, isso existe…). Mas acho que abrange melhor se disser que não tenho interesse em produzir nada de estímulo à ”Violência Gratuita” , pois daí, estendemos nosso raciocínio.
O afeto entre pessoas do mesmo sexo é algo louvável.
Em momento algum pretendo me envolver em nada que ridicularize, diminua, agrida ou que já o tenha feito ou ainda que colabore com Aversão à Homossexualidade.
E, por favor, se está mesmo lendo esse texto, se leu até aqui, deve estar bem previsível minha posição acerca de Racismo e Xenofobia…
ESQUECE!
Some!
Então, chega o último dos itens que sinto ser necessário mencionar, que seriam trabalhos que promovam o Cristianismo. Mas deixo meu tom aqui baixar um pouco e me explico. Considero, sim, o cristianismo uma doença (das mais maléficas), mas o Cristão, não sei se vai concordar, é “vítima” do cristianismo. É nascido, adestrado, formado dentro disso. Toda uma parcela enorme do globo o foi e as outras parcelas não foram formadas em tão melhores condições. Isso causa muitos danos na mente de alguém… Não me sentiria à vontade, empolgado, inspirado para construir algo em favor de uma ”doutrina” (já não começou legal) que alicerçou invasões, escravidão, abuso, roubo, mentira, a já citada violência, colonização, destruição de culturas ancestrais… e nesse bojo não está só o cristianismo…
Situações podem variar – e vão mesmo! Cada caso vai ser - como sempre foi - analisado em seu instante próprio.
A infelicidade de um único ser humano deveria ser a infelicidade de todo o gênero humano. Igualzinho a você, tenho algum talento para alguma coisa. Acredito em cooperação, apoio mútuo, horizontalidade, solidariedade...
Que nessa minha estada tão breve por aqui o que eu tiver de talento trabalhe por essa nossa espécie tão turbulenta…
(miranda.guto@gmail.com)
